Brasil

Publicada em 03/05/18 às 21:18h - 313 visualizações
Doleiros tinham frigorífico e Odebrecht como clientes

Rádio Geração 3

 (Foto: Rádio Geração 3)

Uma das maiores operações já montadas pela Lava Jato a incluir o Rio de Janeiro, a Operação "Câmbio, desligo", deflagrada nesta quinta-feira (3) tendo como alvos 45 doleiros que operavam para o ex-governador Sérgio Cabral (MDB), prendeu também dois doleiros que trabalhavam para a JBS.

Conhecidos pelos apelidos "Paco" e "Raul", eles foram capturados no Uruguai. Segundo a Procuradoria da República, foi montado pelo grupo de Cabral um "banco paralelo", que lavava dinheiro sujo no Brasil e no exterior, e que também foi utilizado pela Odebrecht.

Foi a maior investida contra a lavagem de dinheiro no país desde a do Banestado, afirmou o coordenador da Lava Jato no Rio, procurador Eduardo El Hage.

"Os doleiros faziam a junção entre demanda de dólar no exterior e de real no Brasil. Precisavam ter uma rede complexa de financiadores, era tal qual um sistema bancário.

Essas contas têm íntima relação com todo o ciclo da corrupção no Brasil. Juca e Tony (doleiros de Cabral) forneciam serviços para empreiteiras como a Odebrecht", explicou o procurador da República Rodrigo Timóteo.

A operação contou com o apoio de autoridades uruguaias e mirou em doleiros que serviram no Brasil e no exterior ao esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas atribuído ao ex-governador. Segundo as investigações, foi movimentado mais de US$ 1,6 bilhão. Pelo menos US$ 100 milhões seriam de Cabral.

O procurador da República Stanley Valeriano pontuou que sem o esquema não teria sido possível ao grupo de Cabral movimentar tanto dinheiro de propina. "Não seria possível movimentar cifras tão altas se não fossem os doleiros. Eles dão suporte a várias outras atividades criminosas, possibilitam outros crimes de evasão se dividas, sonegação, tráfico de drogas."

Foram expedidos 45 mandados de prisão preventiva no Brasil contra doleiros e seis de prisão preventiva no exterior no Paraguai e Uruguai, além de quatro mandados de prisão temporária e 51 de busca e apreensão determinados pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio. As equipes foram às ruas nos estados do Rio, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e no Distrito Federal. A Interpol foi acionada para prisões na Alemanha (um alvo) e nos Estados Unidos (dois alvos).

A operação baseou-se na delação premiada dos doleiros de Cabral Vinícius Claret, o Juca Bala, e Cláudio Barboza, o Tony, que estão presos, assim como o ex-governador. Eles revelaram que a rede se utilizou de três mil off shores instaladas em 52 países.

Das três mil contas, boa parte delas não foi objetivo de repatriação do dinheiro, informou o superintendente da Receita, Luiz Henrique Casemiro. Conforme mostra fluxograma divulgado pela Procuradoria, Cabral está no centro do esquema, tendo seu operador Carlos Miranda a função de contatar os irmãos doleiros Renato e Marcelo Chebar (também delatores) e, estes, Juca e Tony.

A dupla operava com Dario Messer, o chamado "doleiro dos doleiros". Por circular na alta sociedade carioca, em especial em eventos da comunidade judaica, e entre celebridades, ele trazia clientes.

O fluxograma mostra também que os doleiros do Rio se relacionavam com os demais doleiros que tiveram a prisão decretada e que trabalham em São Paulo e demais Estados.

A necessidade de utilizar essa rede se deu pelo fato de o montante de dinheiro sujo ser grande demais, revelam as investigações. Messer está sendo procurado no exterior. Ele tem cidadania brasileira e paraguaia.

O sistema funcionava assim: o grupo de Cabral, segundo os delatores, entregava aos doleiros dinheiro sujo, em reais, no Brasil, e este era "transformado" em dólares limpos no exterior. No processo de branqueamento, os envolvidos ainda faziam pagamentos de boletos, compravam e vendiam cheques oriundos do comércio.

O juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, justificou assim as prisões: "A gravidade da prática criminosa de pessoas com alto padrão social que tentam burlar os trâmites legais não poderá jamais ser tratada com o mesmo rigor dirigido à prática criminosa comum".

Ele considera ainda que foi criado um sistema financeiro paralelo pela organização criminosa vinculada a Cabral.

Os atos supostamente praticados, acredita o juiz, "afetam toda a economia do país, pois há uma verdadeira rede de câmbio paralelo movimentando soma de bilhões de dólares sem passar pelo trâmites legais. A impressão que se tem é que a apontada organização criminosa, cujas diversas ramificações estão ainda a ser escrutinadas, criaram um 'sistema financeiro paralelo' ao oficial, de forma a desrespeitar as normas existentes sobre a matéria e colocar em risco a credibilidade do sistema financeiro do Brasil perante instituições internacionais."

Bretas escreveu ainda: "Repise-se que muitos dos ora investigados já foram investigados ou denunciados no passado por delitos de mesma tipologia, todavia, isso não parece ter desestimulado a perpetuação da conduta".

O que diz a defesa de Sérgio Cabral

A defesa do ex-governador Sergio Cabral mandou nota sobre a operação de hoje: "A operação policial de hoje em nada afeta a defesa do ex-governador Sérgio Cabral, não se refere à sua pessoa e nem ao seu mandato."

Defesa da Odebrecht

Em nota, a Odebrecht afirma "que está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Assinou Acordo de Leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Equador, Panamá e Guatemala. Implantou um sistema para prevenir, detectar e punir desvios ou crimes. E adotou modelo de gestão que valoriza não só a produtividade e a eficiência, mas também a ética, a integridade e a transparência."

Defesa da JBS

A assessoria de imprensa da JBS afirmou que a Operação "Câmbio, Desligo" não traz nenhum fato novo envolvendo a empresa e que todas as denúncias envolvendo a JBS no âmbito da Operação constam no acordo de colaboração da holding J&F.




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